quarta-feira, 24 de outubro de 2012

OS FILHOS DA TERRA






Como pode alguém comprar e vender o céu, o calor da terra? É uma idéia estranha para nós. Porque não possuímos a frescura do ar ou o brilho da água. Como grande chefe pode querer comprá-lo de nós?

Cada parte de nossa terra é sagrada para o meu povo. Cada copa brilhante de um pinheiro, cada névoa dos bosques escuros, cada inseto luminoso é santo na memória e na experiência de meu povo. 

Sabemos que o homem branco não compreende nossos costumes. Para ele, um pedaço de terra é igual ao seguinte. Porque ele é um estranho que chega de noite e tira tudo o que necessita. Seu apetite devorará a terra e deixará atrás de si um deserto. A visão de suas cidades castiga os olhos do índio. Talvez porque o índio é um selvagem e não entenda...


Não há lugares calmos nas cidades dos homens brancos. Nenhum lugar para se ouvir as folhas da primavera ou o ruído das asas dos insetos. Talvez eu seja um selvagem e não compreenda – mas o barulho apenas insulta meus ouvidos.


E o que é a vida lá, se um homem não pode ouvir o belo canto do rouxinol ou as conversas noturnas dos sapos em volta do lago?


O índio prefere o som suave do vento escorrendo na face da lagoa, o cheiro do vento lavado por uma chuva de meio-dia e perfumado pelos pinheiros.

O ar é precioso para o índio. Todas as coisas repartem o mesmo ar: os animais, as árvores, o homem.

O homem branco prefere não levar em conta o ar que respira. Como um homem morrendo há vários dias, ele está entorpecido para o perfume. Se todos os animais e árvores desaparecessem, o homem morreria de grande solidão de espírito, porque seja o que for que aconteça aos animais e plantas, acontecerá também ao homem. Todas as coisas estão ligadas.

O que suceder à terra, sucederá também com os filhos da terra.

(Trecho da carta escrita pelo chefe Seathl, da Tribo Suwamish (Washington)em 1855, em resposta à compra de terras indígenas pelo governo Norte-americano).



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