As
vezes as mulheres ficam cansadas e irritadas à espera de que seus parceiros as
compreendam. “Por que eles não conseguem saber o que eu penso, o que eu quero?”
Elas ficam exaustas de fazer essa pergunta. No entanto, existe uma solução para
esse dilema, uma solução prática e eficaz.
Se
a mulher quiser que seu parceiro tenha esse tipo de receptividade, ela lhe
revelará o segredo da dualidade da mulher. Ela lhe falará sobre a mulher
interior, aquela que, somada a ela mesma, formará duas. Isso ela consegue ao
ensinar seu parceiro a fazer duas perguntas de uma simplicidade enganosa que
farão com que ela se sinta vista, ouvida e conhecida.
A
primeira pergunta é a seguinte: “O que você quer?” Quase todo mundo faz alguma
versão dessa pergunta, mas de forma automática. Existe, porém, uma pergunta
ainda mais essencial. “O que deseja o seu self mais
profundo?”
Quando
se ignora a natureza dual da mulher e se julga a mulher pelo que ela aparenta
ser, pode-se vir a ter uma grande surpresa, pois, quando a natureza primitiva
da mulher emerge das profundezas e começa a se afirmar, é frequente que ela
tenha interesses, sentimentos e ideias muito diferentes dos que manifestava
antes.
Para
tecer um relacionamento seguro, a
mulher também fará as mesmas perguntas ao parceiro. Como mulheres, aprendemos a
reunir as forças dos dois lados da nossa natureza e da dos outros também. A
partir da informação que recebemos reciprocamente dos dois lados, podemos
determinar com clareza o que é mais valorizado e como reagir de acordo com
isso.
Quando
a mulher consulta sua própria natureza dual, ela está cumprindo o processo de
olhar, examinar e sondar o material que está para além do consciente, sendo,
portanto, muitas vezes surpreendente no seu conteúdo e no seu tratamento, e
quase sempre de imenso valor.
Para
amar uma mulher, o parceiro deve também amar sua natureza primitiva.
Se
a mulher aceitar um companheiro que não possa amar ou que não ame esse seu
outro lado, ela sem dúvida acabará arrasada sob algum aspecto e deixada a
vaguear cambaleante, em desmazelo. Portanto, os homens, tanto quanto as
mulheres, devem identificar suas naturezas duais.
O
amante mais querido, o pai mais valorizado, o amigo ou “homem” mais valioso é
aquele que deseja aprender. Quem não se delicia com o aprendizado, quem não é
atraído por novas ideias ou experiências não conseguirá passar do marco de
estrada junto ao qual está descansando agora. Se existe uma força que alimenta
a raiz da dor, ela é a recusa a aprender além do momento presente.
Sabemos
que a criatura está à procura da sua própria mulher terrena. Com medo ou não, é
um ato de profundo amor o de se permitir ser perturbado pela alma primitiva dos
outros. Num mundo em que os seres humanos têm tanto medo da “perda”, existe um
excesso de muralhas protetoras contra o mergulho na luminosidade de outra alma humana.
O
companheiro certo para a mulher é aquele que tem uma profunda tenacidade e
resistência de alma, aquele que sabe mandar sua própria natureza instintiva ir
espiar por baixo da cabana da alma de uma mulher e compreender o que vir e
ouvir por lá. O bom partido é o homem que insiste em voltar para tentar
entender, é o que não se deixa dissuadir.
Portanto,
a tarefa primitiva do homem consiste em descobrir os nomes verdadeiros da
mulher, não em usar indevidamente esse conhecimento para ganhar controle sobre ela, mas, sim, para captar e compreender a
substância luminosa de que ela é feita, para deixar que ela o inunde, o
surpreenda, o espante e até mesmo o assuste.
Também
para ficar com ela. Para entoar seus nomes para ela. Com isso os olhos dela
brilharão. E os dele também.
No
entanto, para que não descansemos antes da hora, há ainda outro aspecto da
identificação da dualidade, um aspecto ainda mais apavorante, porém essencial a
todos os amantes. Enquanto um lado da natureza dual da mulher pode ser chamado
de vida, a irmã “gêmea” da vida é uma força chamada morte.
A
força chamada morte é uma das bifurcações magnéticas do lado selvagem. Se
aprendermos a identificar as dualidades, acabaremos dando de cara com a caveira
descarnada da natureza da morte. Dizem que só os heróis conseguem suportar a
visão. O homem sem dúvida consegue. A mulher, sem a menor sombra de dúvida,
consegue. Na realidade, eles são inteiramente transformados pela visão.
Clarissa
Pinkola Estes
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