quarta-feira, 24 de fevereiro de 2016

A Lenda da Flor de Lótus



Certo dia, às margens de um tranquilo lago afastado de praticamente tudo, em cuja margem erguiam-se frondosas árvores com perfumadas flores de incontáveis cores, permeadas pelos mais diversos ninhos, encontraram-se quatro elementos irmãos: o Fogo, o Ar, a Água e a Terra.
- Quanto tempo sem nos vermos em nossa nudez primitiva. – disse o Fogo cheio de entusiasmo, como é de sua natureza.
- É verdade – disse o Ar. – Temos um destino bem curioso. À custa de tanto nos prestarmos para a construção de formas e mais formas, tornamo-nos escravos de nossa obra e perdemos nossa liberdade.
- Não te queixes – disse a Água solenemente. “Estamos obedecendo à Lei, e é um Divino Prazer servir à Criação. Por outro lado, não perdemos nossa liberdade; tu corres de um lado para outro, à tua vontade; o irmão Fogo, entra e sai por toda parte servindo à Vida e a Morte. Eu faço o mesmo.
- Em todo o caso, sou eu quem deveria me queixar – pronunciou-se a Terra – “Estou sempre imóvel, e mesmo sem minha vontade, dou voltas e mais voltas, sem descansar no mesmo espaço.
- Não entristeçais minha felicidade ao ver-nos com discussões supérfluas – disse o Fogo – É melhor festejarmos tais momentos em que nos encontrarmos fora da forma. Regozijemo-nos à sombra destas árvores e à margem deste lago formado pela nossa união.
Todos o saudaram e se entregaram ao mais feliz companheirismo. Cada um contou o que havia feito durante sua longa ausência, as maravilhas que haviam construído e destruído. Cada um se orgulhou de se haver prestado para que a Vida se manifestasse através de formas sempre mais belas e mais perfeitas. E se regozijaram, pensando na multidão de vezes que se uniram fragmentariamente para o seu trabalho. Em meio de tão grande alegria, existia uma nuvem: o Homem. Uma criatura imensamente dotada de Ingratidão. Haviam-no construído com seus mais perfeitos e puros materiais. Contudo, o Homem abusava deles, desperdiçando-os, perdendo-os em vão. Tiveram desejo de retirar sua cooperação e privá-lo de realizar suas experiências no plano físico. Mas a nuvem dissipou-se e a alegria voltou a reinar entre os quatro irmãos.
Aproximando-se o momento de se separarem, pensaram em deixar uma recordação que perpetuasse através das eras a Felicidade de seu encontro. Resolveram criar algo especial que, composta de fragmentos de cada um deles harmonicamente combinados, fosse também a expressão máxima de suas diferenças e independência, servindo de símbolo e exemplo para o Homem. Idealizaram muitos projetos que foram abandonados por serem incompletos e insuficientes.
Por fim, refletindo-se no lago, os quatro disseram:
- E se construíssemos uma planta cujas raízes estivessem no fundo do lago, a haste na água e as folhas e flores fora dela? – A ideia pareceu digna da experiência.
- Eu colocarei as melhores forças de minhas entranhas – disse a Terra – e alimentarei suas raízes.
- Eu a suprirei as melhores linfas de meus seios – disse a Água – e farei crescer sua haste.
- Eu soprarei minhas melhores brisas – disse o Ar – e tonificarei a planta.
- Eu a aquecerei com todo o meu calor – disse o Fogo – para dar às suas corolas as mais formosas cores.
Dito e feito. Os quatro irmãos começaram sua obra. Fibra sobre fibra foram construídas as raízes, a haste, as folhas e as flores. O Sol abençoou-a e a planta deu entrada na flora regional, saudada como rainha. Quando os quatro elementos se separaram, a Flor de Lótus brilhava no lago em sua beleza imaculada, e servia para o homem como símbolo da pureza e perfeição humana.
Nossas qualidades isoladamente podem até parecer impressionantes, mas quando devidamente combinadas, podem trazer à superfície um Ser Humano sem igual.

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