Caminhando pelo centro de São
Paulo, ao passar pelo largo de São Francisco, num impulso suave e inspirado
entrei na igreja do Santo dos pobres e dos animais. Vivíamos a Semana Santa.
Deixando-me envolver pela doce paz presente na igreja, sentei-me e olhando o
belo local, deixei o pensamento voar.
Algumas vezes já entrei nesta
igreja consternado, com o coração ferido, sofrendo muito e sem saber o que
fazer para sair da dor. Imaginei quantas pessoas sentaram neste mesmo banco,
passando também por sofrimentos e desespero. Lembrei de um texto da
escritora Marianne
Williamson, instrutora e divulgadora do livro Um Curso Em Milagres,
que fala de um tempo em que, ao passar por sofrimentos, devemos “deixar nossa alma sangrar, aceitar
a dor, até que o ciclo se complete em si mesmo”.
“Você não pode apressar um
rio ou um coração partido. Apenas saiba que isso também vai passar”.
Sendo levado pelas ideias e
pelo clima do local, pensei nas inúmeras lições que a crucificação de Cristo
nos deixou, das quais podemos lançar mão em todos os momentos de nossa vida. Da
mesma Marianne, temos
um exemplo: “A
crucificação não é especialmente um conceito cristão; metafisicamente, é um
padrão de energia, demonstrado fisicamente na vida de Jesus, mas experimentado
psiquicamente na vida de todos nós. Energeticamente, ele representa um padrão
de pensamento. A morte é sua missão e a vida é sua inimiga, pois ele é a mente
trabalhando contra Deus.
Portanto, este é o drama de
cada vida humana, enquanto o amor nasce nesse mundo e depois é crucificado pelo
medo. Mas a história não para aí. A ressurreição, como a crucificação, é uma
verdade metafísica: é a resposta de Deus ao ego, ou o triunfo último do amor.
Tudo o que sempre acontece, em qualquer situação, é que o amor aparece, é
crucificado e, finalmente, jogado fora.”
Alongando mais as
explicações, acho pertinente incluir outros trechos: "Essa é a tragédia da história
humana. Existe uma força negra, não fora de nós, mas aqui dentro, sempre
trabalhando para destruir o amor que Deus cria. Essa força, ou ego, é mantida
no lugar por nossa crença de que somos separados de Deus e uns dos outros; ela
se expressa constantemente através do julgamento e da culpa. É cada palavra
grosseira, ataque, pensamento, ou ação violenta. Algumas vezes, ela sussurra, como
em vislumbre malvado; outras vezes ela grita, como no genocídio de uma pessoa.
Mas ela está sempre ativa, enquanto tiver medo como combustível. E hoje, ela
está de olho no maior prêmio de todos – a perspectiva da aniquilação global.
"A crucificação toma
muitas formas: material, mental, emocional, e espiritual. Mentalmente, ela é
uma doença progressiva trabalhando dentro das nossas mentes. Ela algumas vezes
é chamada de segunda força, o anti-Cristo. Ela é o elemento destrutivo, contra
a vida, na experiência humana.
"A ressurreição é a
resposta de Deus para a crucificação; é Seu ato de elevar nossas consciências
ao ponto onde os efeitos do medo são cancelados. Nossa santidade – o amor de
Deus dentro de nós – é a única maneira pela qual a humanidade já transcendeu a
escuridão, e sempre será.
"Não há nada mais lindo
do que o manto do sobrevivente. Não há nada mais iluminado do que o corpo
ressuscitado; a nova personalidade que emerge quando a velha foi deixada de
lado."
Após essas lições, todas
relembradas no silêncio santo da igreja, “religado” à minha essência
levantei-me e caminhei para levar ao turbulento mundo, que rugia sua fúria
através da balburdia cotidiana, o amor que renascia em meu peito.
José Batista C. de Carvalho
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