Cada um cria e
dirige o filme da sua vida.
A ilusão pode nos
parecer tão real que nem paramos para avaliar o que é fictício e o que é
realidade.
A realidade da
vida pode ser difícil, e talvez por isso algumas pessoas preferem viver no
conto de ficção que, como um roteiro, criam cuidadosa e detalhadamente.
Cada um tem uma
narrativa, para a qual escala os personagens que vão compor o elenco; cria os cenários
da época, sem esquecer dos figurinos; escolhe o tema que vai dar o tom: drama,
suspense, traição, romance.
Passa a viver
movendo-se por esses cenários e, dependendo do dia ou da época, encena um
roteiro diferente.
Roteiro Retrô:
lembranças do passado
Esta categoria
pode se desenrolar em duas narrativas distintas, que sempre remetem a fatos do passado:
1
- as boas lembranças: a insegurança
de conseguir criar novos momentos de satisfação, felicidade e realização, faz o
protagonista recriar e recontar constantemente os momentos do passado quando se
sentiu bem, seguro, confiante, realizado, e a vida passa num "faz-de-conta
que está tudo bem".
Soluções de
problemas são adiadas, atitudes necessárias deixam de ser tomadas, evita-se a
todo custo assumir responsabilidades, tomar decisões, enfrentar situações. Até
a hora em que a realidade vem como um trem desgovernado, descarrilhando e
destruindo tudo em sua passagem, sobrando apenas escombros.
2
- as más lembranças: neste enredo
mais ao estilo "film noir", o protagonista se vê sempre como que
acordando de um pesadelo; situações dramáticas, eventos desgastantes, pessoas
maldosas e inescrupulosas, drama e traição, dão a tônica da narrativa.
Correntes
pesadas prendem o indefeso personagem a seus algozes, a vítima não consegue se
mover para buscar a realização de seus projetos, a mente atordoada não consegue
se desvencilhar para alcançar a liberdade criativa e realizadora.
Roteiro de
Ficção: vivendo no futuro
Nos mesmos
moldes da categoria Retrô, o Roteiro de Ficção também tem duas opções de
narrativa, que se desenvolvem num tempo posterior:
1
- o futuro-solução: o roteiro se desenvolve baseado na incerteza da
condicionalidade, seguindo a linha discursiva "só - se", alternada
com a "só - quando". Os diálogos, dessa forma, giram em torno de
construções do tipo "só vou se feliz se", e ""só vou ter
paz quando".
Assim,
esperando que uma situação futura incerta e duvidosa se realize, o protagonista
da vida real não aproveita aquilo que sua existência está lhe oferecendo no
momento atual para concretizar seu ideal de vida.
2
- o futuro aterrador: a incerteza do futuro e o medo do desconhecido se
desenrolam entre cenários inquietantes. Hipóteses, especulações, dúvidas:
elementos como esses compõem a base deste roteiro angustiante.
A insegurança e
a falta de confiança estão sempre presentes, atitudes deixam de ser tomadas, o
tempo passa, os meses se acabam. E só fica o som do relógio ao fundo, que marca
tic-tac, tic-tac...
Roteiro
Contemporâneo: uma versão do presente
As ações desta
categoria se desenvolvem no tempo presente.
A
característica deste roteiro é o que podemos chamar de "um certo sentido
de alienação da realidade".
Embora se
passando no momento atual, a lente da ilusão coloca um filtro que encobre a
verdade das pessoas ou acontecimentos. Esse filtro ilusório pode se aplicar
tanto ao personagem principal ou aos coadjuvantes e demais personagens que
compões a trama do episódio.
Cada um cria
histórias, encenadas com as máscaras correspondentes
ao papel que desempenha, tecendo tramas ardilosas em torno de temas como
falsidade, manipulação, detenção de poder, vitimismo.
Será que
estamos vivendo nossa vida, ou estamos interpretando um conto ilusório?
"Quem espera que
a vida seja feita de ilusão, pode até ficar maluco ou morrer na solidão.
É preciso ter cuidado pra mais tarde não sofrer, é preciso saber viver.
É preciso ter cuidado pra mais tarde não sofrer, é preciso saber viver.
Toda pedra do caminho você pode retirar, numa flor que tem espinhos
você pode se arranhar.
Se o bem e o mal existem, você pode escolher. É preciso saber viver."
Se o bem e o mal existem, você pode escolher. É preciso saber viver."
Como diz a
música, É Preciso Saber Viver.
O
livre-arbítrio é a chave mestra de nossa vida.
Podemos nos
perder nas viagens pelo tempo, entre pensamentos passados e futuros, e deixar a
vida ficar estagnada no pântano da inatividade no momento presente.
Podemos nos
deixar levar por ilusões e falseamentos, acreditar no que não é ou mostrar o
que não somos, e arcar com o sofrimento quando a verdade erguer o véu que a
encobria.
Ou ainda,
podemos acreditar no ser capaz, alegre, vigoroso que somos, podemos desenvolver
e aperfeiçoar nossos valores morais, nossas qualidades inatas ou adquiridas.
Podemos confiar
na nossa capacidade de realizar o
que a Vida nos confiou para Ser.
Noemi C. Carvalho
Nenhum comentário:
Postar um comentário